domingo, 27 de junho de 2010

A cabana


Ouvi dizer, que distante daqui há uma cabana abandonada.
O cheiro é de mofo. Há móveis quebrados, velhos e sujos...
Logo após o casamento, um casal de jovens mudou-se para a cabana.
Não puderam ter filhos, pois o rapaz havia tido um grave problema de saúde quando criança, que fizera dele estéril. A esposinha, então concordou em adotar filhos. E foi o que fizeram.
Conceberam de dentro do coração um casal.
Na cabana estes foram criados, até que saissem de casa para seguir sua própria jornada.
A menina formou-se médica e o rapaz, dois anos mais novo que a manina, formou-se em Filosofia. Casaram-se, filhos tiveram, e nunca mais voltaram para ver seus pais. Diziam que era por conta da correria do dia-a-dia...
A mãe, que já estava em idade avançada, chorava muitas vezes no ombro do esposo, velho também, triste por sentir saudades dos netos, dos filhos. Consolavam-se os dois...
Eles permaneceram na cabana até o fim de suas vidas. Durante 6o anos.
A velha senhora, aos 78 anos, adoeceu, e a doença foi consumindo-a de tal forma, que não podia mais sentar-se. Passava dias e noites deitada, já não mais falava, nem sorria nem chorava.
O velho esposo quem a cuidava. Dava os banhos, almoço e jantar.
Ele também estava bastante cansado, cheio de dores...
Mas a cuidava, zelava por ela com carinho e nunca reclamou, nem questionou Deus pela situação que encontravam-se.
Lembro que certa vez, ouvi dizer que quando ela adoeceu, já não conseguia mais pintar as unhas dos pés. Era ele quem fazia isso para ela.
Ele penteava também os cabelos daquela que prometeu amor até o fim...e gostava de faze-lo.
Ele chorava escondido. Sozinho...não de tristeza, nem desânimo. Mas agradecendo ao Céu poder cuidar da mulher de sua vida, pedindo forças para não adoecer também e acabar partindo antes dela. Tinha medo quando pensava que se partisse antes da esposa, quem dela cuidaria...
Ele cuidou dela até o final de sua vida.
Ela faleceu num outono. E no velório, os filhos e netos despediam-se em lágrimas, sofrendo a perda da avó.
Talvez o choro fosse mais por culpa, remorso que saudade...
Tres meses depois fora ele quem partiu.Morte natural.
Os filhos brigaram muito na hora de divisão de bens. Ate que fora determinado que o filho, o menino ficaria com a cabana e a filha com algumas jóias herdadas pela familia da mãe que morrera...
A cabana?
Cheia de pó, móveis velhos estragados, quebrados...insetos e teias de aranha...
Está abandonada.
Mas cheinhaaaa de história.
De memórias...de uma vida inteira de amor.

Evelyn Buchara

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