terça-feira, 2 de agosto de 2011


Fazia frio e escurecia já o dia. Coloquei o violão nas costas a gaita no bolso e fui.
Procurava um lugar único e escondido de qualquer pessoa que fosse, mas não queria sentir-me completamente só. Tinha que ser um lugar onde ninguém pudesse me ver mas que eu pudesse olhar as pessoas...
Caminhava numa estradinha estreita de terra, cercada por árvores e plantas e flores e mata, onde o fluxo de pessoas era grande e procurava encontrar o lugar perfeito em que pudesse ficar só sem que sentisse a solidão doer.
Quando menos esperava, ao lado direito da estradinha havia uma pequena entrada, ou algo parecido com uma entrada e pensei que pudesse ser o ponto que pretendia encontrar. Arrisquei-me por aquela pequena e também estreita brexa. Caminhei aproximadamente quinze minutos e me dei conta que estava num grande jardim. Era um jardim bem cuidado, com flores de todos os tipos e plantas de todas as formas. Haviam pássaros que cantavam e bichos...pequenos bichos que corriam e subiam e pulavam por entre essas arvores e flores.
Um rio corria no centro desse jardim e pensei que seria agradável beber um pouco da água(estava com sede) e depois molhar os pés para refrescar-me e o fiz. Já não sentia o frio que fazia lá fora, o jardim era quente...
Sentei-me à beira do rio, decidi deitar-me...Olhei então para o céu que já estava coberto de estrelas e pensei que estava sendo absolutamente abençoada porque naquela noite a Lua estava cheia e amarela e incrivelmente linda.
Pensava tantas coisas ao mesmo tempo. Aquele lugar era pra mim tão inspirador, e pareceu-me tão mágico, tão meu...
Agarrei a gaita numa sede de tocar e toquei minha canção preferida de uma maneira como nunca tinha feito.
Essa canção, sempre toquei para pessoas especiais como uma maneira de presenteá-las, como quem dedica algo especial a alguém especial...
Pude então perceber, que minha corrida, minha sede aquele dia, não era de ficar só. Até porque, queria ficar só mas sem sentir-me só. Eu temia a solidão.
O que eu desejei sem dar-me conta o tempo todo era estar comigo. Era estar só comigo mesma e desfrutar de minha própria companhia.Conhecer-me.
O que aprendi?
Qualquer lugar, ou todo lugar se torna especial e qualquer ou todo momento se torna único se possuirmos a nós mesmos como maior riqueza.
Não acredito mais na teoria de que é impossível ser feliz sozinho, com essa conotação afetiva que a frase ganhou com o passar dos anos.
Impossível ser feliz sozinho, sim. É impossível. Mas impossível ser feliz sem ser dono de si mesmo. Sem se dar conta que a melhor companhia que podemos usufruir é a nossa própria companhia.
O impossível de verdade, é ser feliz, atribuindo a responsabilidade da própria completude ao outro.
É possível uma alma que vaga sem saber quem deveras é, encontrar e reconhecer outra alma?
É necessário arriscar. Entrar no caminho desconhecido, sombrio e estreito da solidão para dar graça a um lugar lindo que chamo de verdadeiro eu. Entrei em mim, descobri um lugar lindo e quente, e pude então tocar a canção mais linda, que mais amo a pessoa mais especial em minha vida: eu!

Dá medo, mas vale a pena.
Deu medo, mas valeu muito a pena.
Precisamos estar completos para então proporcionar alegria a outra pessoa. Esse negócio de que a pessoa precisa encontrar sua outra metade no mundo para ser feliz é baléla. Nossa outra metade não esta do lado de fora, está dentro de nós.

Ivie

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